quinta-feira, 24 de março de 2011

Opiniao DN sobre crise politica: KILL BILL por Andre Macedo

O próximo filme de Quentin Tarantino, o terceiro episódio de Kill Bill, começa com uma frase que diz mais ou menos assim: se te vais vingar de alguém, prepara-te: cava já duas sepulturas. O filme ainda não chegou aos cinemas, mas as cenas portuguesas dos últimos dias têm um argumento tirado a papel químico. Além da crise orçamental e do sufoco financeiro, ficou claro que os protagonistas deste enredo não se podem ver à frente. Nalguns casos, desprezam-se profundamente. Não se respeitam. Odeiam-se. Nenhum deles foi capaz de pôr de lado os próprios impulsos e instintos primitivos para ser maior do que as circunstâncias. E as circunstâncias são muito exigentes para o Estado, para o sector financeiro, para as empresas e para as famílias. A sepultura, neste caso, é comum. Vejamos: as agências de rating vão reagir mais depressa do que a própria sombra à demissão do Governo. Espanha já se distanciou da pestilência para evitar o contágio. Os juros da dívida pública vão subir para a zona de morte (dois dígitos). A capacidade de o Estado pedir dinheiro emprestado está ameaçada, dependerá de métodos alternativos para acontecer (dívida sindicada) e da boa vontade de algum país nos lançar uma bóia de salvação. Dependerá ainda do BCE nos manter ligados à máquina de oxigénio até haver novo Governo, lá para Julho. Estamos, de facto, nos cuidados intensivos, apesar de ainda com vida e possibilidades de sobrevivência. Aceitar já o fundo de resgate, com um juro entre os 5% e os 6%, e ficar sob o jugo de Bruxelas e do FMI, é uma possibilidade que se mantém sobre a mesa. Acontece que ontem à noite nenhum dos líderes políticos - especialmente Sócrates, que tinha essa obrigação - disse uma única palavra sobre esta questão. Parece que o problema de liquidez se dissolveu com a demissão do Governo. Não dissolveu. Piorou. Estamos no fio da navalha. Agora é hora de Cavaco. De Sócrates já não se espera nada.

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