domingo, 14 de novembro de 2010

Não critiquem a China

(Foto da Web)

"Louçã, para quem só o soletrar do par de sílabas daquele país [China] lhe aviva irresolúveis problemas de consciência que acompanham o seu percurso político, decidiu exercitar o seu melhor anticomunismo. Disse Louçã, a propósito das notícias sobre a eventual entrada de capital chinês na EDP, que «não somos daqueles para quem as privatizações são erradas do ponto de vista estratégico mas que passa a vê-las como boas se for uma empresa capitalista chinesa ...». Regista-se a insinuação e o seu significado. Alinhado pelo ambiente e opinião dominantes ditadas pelo imperialismo, a critica à China, com o que encerra de anticomunismo, é vista por Louçã como coisa que «está a dar»."
Tudo é magnífico neste texto. Cordeiro tem este estilo pesporrento: quem não concorda com ele é "anticomunista" senão imperialista.
Mas, esperem: não foi o governo chinês quem declarou que o Orçamento de José Sócrates punha a economia num bom caminho? Não é o mesmo governo que negoceia com o BPI e o BCP a parceria no capital financeiro, que explora os trabalhadores portugueses? Não é o mesmo governo que compra parte da EDP, que vai subir os preços da electricidade no próximo ano, atingindo os trabalhadores?
Mas para Cordeiro tudo é claro: quem critica a China tem "irresolúveis problemas de consciência". Não serão os problemas de consciência de quem apoiou a invasão da Hungria ou da Checoslováquia. Já agora, não serão os problemas de consciência de quem aceitou sempre calar-se sobre o apoio da China à ocupação de Timor pela Indonésia. Nem serão os problemas de consciência de quem não levantou uma palavra quando a China foi o segundo país do mundo a reconhecer a ditadura de Pinochet.
Afinal de contas, Cordeiro ainda acha que a China - as duas sílabas que não podem ser "soletradas" por ímpios - é mesmo comunista. Creio que é um dos poucos que acredita nisso. O capital há muito que percebeu como lhe convinha a produção chinesa por trabalho explorado, e como esta exploração cria desemprego noutros países. A China é hoje um dos centros da acumulação de capital no mundo. Os comunistas, militantes da luta dos trabalhadores, sabem melhor do que ninguém que este regime económico e político é desprezível e não é seu aliado.
Mas ficamos a saber uma coisa positiva: o seu partido não aceitará a privatização total ou parcial do porto de Sines com a compra por uma empresa chinesa. Mesmo por detrás desta estratégia de insulto de que Cordeiro se tornou o especialista de serviço, há uma boa notícia. Ainda bem.
Escreve Jorge Cordeiro no Avante:

( Texto partilhado do Facebook)

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